A raposa não era sua mãe

Faz tempo que eu entrei em um período de repensar minha vida. Um ano mais ou menos. Não é um período grande face à vida toda, mas tem sido um período de muita angústia, que para mim parece muito mais tempo (e imagino que para o meu marido também).

É comum passarmos por esses momentos de reflexão de tempos em tempos, mas eu nunca tinha passado por um tão profundo e que tenha durado tanto tempo.

Esses dias, durante um dos meus muitos momentos de angústia, eu lembrei de um livro que eu li há uns 3 anos chamado Wild, da escritora Cheryl Strayed, que até rendeu um filme de mesmo nome com a Reese Witherspoon, mas que não é tão bom.

O livro narra a história real da escritora. Ela estava perdida, envolvida em um relacionamento muito tóxico, tinha uma relação ruim com a família, se envolveu com drogas e, quando a mãe dela morreu, ela decidiu fazer uma caminhada de 6 meses pela Pacific Crest Trail, uma trilha que vai desde o México até o Canadá, passando por toda a costa da Califórnia e daquele lado dos Estados Unidos.

Ela não era esportista nem tinha experiência em caminhadas, bem pelo contrário, devido à vida que levava ela estava fora de forma. Mas decidiu que aquela trilha era o que ela precisava para descobrir seu caminho, para se descobrir.

Muitas coisas acontecem, ela passa por várias dificuldades e aquilo tudo que a gente já pode imaginar. Mas o que me veio à cabeça foi um trecho do livro, logo no começo da caminhada, em que ela vê uma raposa e ela tem a certeza de que aquela raposa é a sua mãe. Ela avista a raposa em vários trechos do caminho e conversa com ela como se ela fosse a sua mãe.

Ela começou essa caminhada com a ideia de que, ficando sozinha por tanto tempo, ela conseguiria se reencontrar, iria ter uma crise de choro muito intensa e com isso teria um grande insight sobre o que fazer de sua vida. Ela vai fazendo de tudo para forçar essa conexão com ela própria, mas não consegue nem chorar. Ela vai ficando cada vez mais decepcionada e pensando em desistir. Até que começa a encontrar pessoas ao longo do caminho com quem divide histórias e que vão ajudando-a na caminhada.

Em certo momento ela para de focar em tudo que achou que iria acontecer e começa a se concentrar na trilha, no que ela está fazendo em cada momento. Ela se concentra nos seus passos, no peso da sua mochila, nos animais que ela vê pelo caminho, na natureza que está ao seu redor, nas pessoas que ela encontra (algumas não tão boas) e no que cada uma dessas coisas a faz sentir.

Ao viver no presente e liberar a sua mente dos pensamentos e choros forçados, ela começa a se conhecer de verdade, de forma natural. Até que no fim da trilha ela encontra um menino e sua avó, conta a eles que sua mãe morreu e o menino canta uma música para ela. Nesse momento ela chora. Só no fim da trilha, depois de um mergulho intenso em si mesma, ela consegue aquele choro que a ajudaria a encontrar seu caminho verdadeiro.

Não vou contar o final, mas tenho pensado muito nisso. Ela queria tanto essa conexão com a mãe e consigo mesma que decidiu acreditar que a raposa era sua mãe, porque esse seria o caminho mais fácil para ela criar essa conexão.

Nesse um ano em que eu estou tentando me encontrar o meu foco tem sido sempre procurar um trabalho que eu goste e uma vida que me faça feliz, mas com isso eu tenho deixado de viver. Nunca estou no momento presente, estou sempre pensando no que eu tenho que fazer depois, no post que eu preciso criar, no vídeo que eu preciso gravar, nas tarefas que eu preciso realizar.

Deixei de aproveitar momentos preciosos com a minha filha, caminhadas maravilhosas na praia, passeios lindos aqui em Portugal, livros, filmes, séries, tudo. Por que tudo que eu estava fazendo eu não estava fazendo por inteiro, não estava presente.

Ontem eu tomei a decisão de parar de conversar com a raposa, de estar presente. Deletei o Facebook do meu celular, tirei as notificações do whatsapp e fiz uma lista de compromissos comigo mesma que eu vou cumprir com toda a minha presença (como meditar, exercitar três vezes por semana, ler pelo menos 10 páginas de um livro todos os dias, dormir antes das 11 da noite, entre outras coisas).

A felicidade não é um destino final. A felicidade está na jornada, no caminho que a gente escolhe fazer. Tão importante como chegar em algum lugar é estar presente em cada etapa desse caminho. Presente mesmo, vivendo aquele momento com intensidade, seja ele qual for.

Você já deve ter ouvido isso algumas vezes na sua vida, mas talvez você ainda não tenha parado para refletir se você está presente naquilo que você faz. Se esse é o seu caso eu te convido a fazer isso agora. Pense com sinceridade se você está curtindo o caminho ou só pensando no seu destino final. E se você decidir que precisa estar mais presente, eu desejo sucesso e muito foco, é difícil e muitas vezes doloroso, mas você não vai se arrepender.

5 comentários sobre “A raposa não era sua mãe

  1. Olá Dina, que texto lindo!!!

    Mês passado decidi focar no presente e em mim. Exclui as redes sociais, ativei o modo “não perturbar” do meu celular falei mais nãos que sime conto mais SOBREVIVI!!! Muitas coisas boas aconteceram porque foquei em MIM.
    Obrigada por compartilhar o texto, fez eu perceber que ainda preciso mudar/melhorar algumas coisas em minha vida.
    Grande beijo
    Mi

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