Perrengues de Imigrante – Parte 5

Se você perdeu os primeiros capítulos da série “Perrengues de Imigrante”, pode ler todos aqui – parte 1, parte 2, parte 3, parte 4.

Mas para facilitar a vida de todo mundo, vou dar uma recapitulada na história toda. Chegamos aqui em Portugal em outubro de 2020. Eu vim com o visto D2, o que significa que eu abri uma empresa e vim como empreendedora. Esse visto dá direito a Paulo Eduardo e Lara fazerem um reagrupamento familiar, ou seja, eles também têm direito a uma residência temporária, que está associada ao meu visto.

O SEF (departamento de imigração daqui) marcou minha entrevista para dia 27 de novembro de 2020. Foi horrível, o atendimento foi péssimo, a pessoa estava de muita má vontade, ficava pedindo documento que nem existia, mas no fim eu consegui. Claro que quando o cartão de residência chegou em casa alguns dados estavam incorretos, mas beleza.

Depois disso passamos a ligar quase que diariamente para o SEF para agendar o reagrupamento familiar de PE e Lara, mas simplesmente não tinham vagas, eles não estavam abrindo vagas para reagrupamento. Paulo Eduardo já estava trabalhando, emitindo recibos, pagando impostos, mas a situação dele não estava regularizada. Mas ele também não está aqui ilegalmente, é um limbo bizarro que ninguém consegue explicar.

Pulando para mais recentemente, final de 2021, o SEF começou a abrir vagas para reagrupamento, mas obviamente era impossível falar com eles no telefone porque eram milhares de pessoas desesperadas por uma dessas vagas. Nunca vou entender porque esse processo não pode ser feito online, mas enfim… Acabamos pagando uma empresa para ligar e agendar para nós.

Depois de uma semana eles conseguiram agendar nosso reagrupamento para final de janeiro. Passamos o natal e o ano novo tranquilos. Em janeiro separamos todos os documentos, era papel que não acabava mais, mas tava tudo lá. Na semana do nosso reagrupamento, todos nós pegamos Covid. Obviamente não fomos, e o SEF não estava interessado em saber do nosso covid, simplesmente cancelaram nossa vaga e a gente teve que recomeçar o processo. Novamente pagamos a empresa, que conseguiu agendar para começo de abril, e é aqui que começa o perrengue do momento.

A princípio eles marcaram 15h para o reagrupamento da Lara e 15h30 do Paulo Eduardo. E a Lara tinha que ir junto, porque eles tiram uma foto para o cartão de residência. Uma semana antes eles mudaram o horário da Lara para 11h da manhã, ou seja, tínhamos que estar lá as 11h e às 15h30.

Ingênuos que somos, nós pensamos o seguinte, a gente vai com a Lara as 11h, volta pra casa, almoça, deixa ela na escola e voltamos lá pro segundo reagrupamento sem ela. Ótimo plano, se não estívessemos falando do SEF.

Chegamos lá pouco antes das 11h e pegamos a senha de número 29, eles haviam acabado de chamar a senha 9. Nem vou me estender no tema da nossa ingenuidade, mas aconteceu que eles nos chamaram pouco antes das 15h para o agendamento das 11h.

Foram quase 4 horas na sala de espera de uma repartição pública, com a Lara sem comer, sem dormir e sem ter o que fazer. A Lara tem 2 anos. Em certo momento Paulo Eduardo saiu com ela pra comer alguma coisinha, mas não foi só um lanchinho, ela tava morrendo de fome e de cansaço. Para ajudar, assim que nos chamaram, ela fez cocô na fralda. Eu, achando que na hora do almoço ela já estaria em casa, não levei uma troca de fraldas, então além de fome, cansaço e sono, a criança ainda estava cagada.

Mas nos chamaram, explicamos para a mulher que tínhamos um outro agendamento às 15h30 e ela falou que podia fazer os dois juntos. Já ficamos animados, tudo começava a dar certo.

Entregamos aquela pilha de papeis pra atendente, ela olhou, copiou, escaneou, olhou de novo, copiou de novo, escaneou de novo e começou a pedir algumas outras informações.

Em certo momento ela passou uns 15 minutos fazendo perguntas sobre a minha empresa, e eu explicando tudo que ela queria saber, mas ela continuava perguntando e estava ficando exaltada, até que eu disse “isso eu não sei, porque eu tenho um contador”, para o que ela disse “mas era só isso que eu precisava saber”. Ela passou 15 minutos me fazendo perguntas para saber se eu tinha um contador, porque raios ela não perguntou se eu tinha um contador????

E assim foi, quase uma hora falando com a mulher, a Lara quase escalando as paredes, até que ela pediu para Paulo Eduardo e Lara tirarem as fotos. Achamos que já estava tudo certo, mas não. Depois de tiradas as fotos ela nos disse que faltavam alguns documentos, entre eles nossa certidão de casamento apostilada há menos de 6 meses e um extrato das nossas contas bancárias, pessoais e da empresa, assinadas pelo gerente do banco. Sim, o gerente do banco precisava assinar o extrato.

Ela nos passou um endereço de email e nos deu 10 dias para mandar todos os documentos. Fomos embora cansados, mas semi-satisfeitos com o resultado, pelo menos não precisaríamos voltar lá.

Chegamos em casa super tarde. No dia seguinte, uma terça-feira, Paulo Eduardo e eu mandamos um email para os nossos respectivos gerentes de conta pedindo o extrato assinado. Agora veja você, dependendo do gerente, ele te manda esse documento por email, mas alguns pedem para você ir buscar na agência e outros cobram de 10 a 40 euros para te entregar. Sim, não há regra, tudo pode acontecer, é uma loteria, depende do humor do seu gerente naquele dia. Para nossa sorte, nossos dois gerentes nos mandaram por e-mail no dia seguinte.

Na quarta-feira eu fui correr atrás do extrato assinado da conta da minha empresa. Olhei no app e a minha gerente da conta pessoal constava como gerente da conta empresa. Mandei um e-mail para ela pedindo o extrato, ela disse que estava errado, que ela não tinha acesso à minha conta empresa, mesmo o nome dela constando no app. Me deu o e-mail da agência onde estava aberta minha conta empresa.

Mandei um e-mail, depois outro, tentei ligar, mas os números do Google estavam errados, então decidi esperar até o dia seguinte, uma quinta-feira.

No dia seguinte, não conseguindo o número da agência, eu liguei no atendimento do banco. Eles disseram que eu teria que falar com o atendimento para contas empresariais, aquele era só para contas pessoais. Liguei para o número que eles me deram, expliquei toda a situação para o cara que me atendeu me disse que aquele número era só para problemas técnicos com as contas empresariais e me deu o telefone da minha agência.

Liguei na agência e ninguém atendia, até que na quinta tentativa caiu uma mensagem de que a agência estava fechada, para eu apertar 9 e falar no atendimento. Apertei 9 e a moça que atendeu me disse que a agência estava fechada porque era véspera de feriado. VÉSPERA DE FERIADO. Sexta-feira era páscoa.

Claro que o SEF não estava nem aí para a Páscoa ou para agências bancárias que fecham na véspera do feriado, o prazo dos 10 dias continuava correndo.

Nesse tempo, minha mãe já tinha conseguido ir no cartório, apostilar nossa certidão de casamento e me mandar por e-mail, só faltava aquele maldito extrato bancário.

Segunda-feira decidimos ir numa agência perto de casa (porque a agência onde está a minha conta é muito longe), e ver se alguém assinaria o extrato para nós, mas já com poucas esperanças. Chegamos na agência umas 15h (porque além de correr atrás da burocracia, a gente também tem que trabalhar em algum momento). As agências aqui fecham 15h30. A sala de espera estava lotada, achamos que nem conseguiríamos ser atendidos. Ali mesmo, da sala de espera, decidi fazer uma tentativa de ligar para a minha agência mais uma vez, recebi a seguinte mensagem “teremos muito prazer em atendê-lo das 10h às 15h30, de segunda a sexta-feira, nesse momento o atendimento está encerrado”, eram 15h de uma segunda-feira!!!

Bom, por um milagre conseguimos ser atendidos e o gerente imprimiu e assinou meu extrato, saímos de lá sem nem entender o que tinha acontecido, porque estávamos certos de que não daria certo.

Mandamos tudo para o SEF nesse mesmo dia, para o e-mail que eles nos deram.

Agora estamos esperando, não dá para saber se eles aceitaram os documentos ou não. Se os cartões de residência chegarem em casa é porque deu certo, se não chegarem é porque não deu e começamos tudo de novo. Não há prazo, pode demorar 15 dias, 1 mês, 3 meses, não se sabe.

Lembrando que a residência temporária tem validade de 2 anos e como a minha saiu em novembro de 2020, a de nós três vence em novembro desse ano, ou seja, talvez tenhamos que renovar antes mesmo deles terem conseguido a deles.

E assim seguimos, um perrengue por dia, sem expectativas de acabar.

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